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o descanso da poeira no tempo suspenso

desempoeirando os livros e varrendo a sala que eu noto o  tanto de resto de cidade que entra pela minha janela mas não são só livros físicos que acumulam poeira a poeira vem quando não se nota há quanto tempo aquela coisa está ali parada (as coisas paradas é onde a poeira escolhe repousar) o tempo despercebido nas coisas paradas é o local de descanso da poeira (a primeira palavra que anotei quando vi francis alys atirando seu corpo ao caos foi poeira em primeira pessoa vê-se somente poeira até quase não ver nada)

existe um livro intacto na minha pasta de downloads quase que acumulando poeira eu sei o que se é falado numa parte desse livro porque ouvi marília garcia dizendo sobre  esse livro se chama amuleto e o autor  se chama roberto bolaño mesmo que eu nunca tenha lido esse livro sei que auxílio diz que a poeira da cidade do méxico deve vir de todos os vasos que são quebrados na cidade do méxico eu sei disso porque marilia garcia me disse sobre (francis alys atira seu corpo no vento vestido de poeira que deve ter vindo de todos os vasos quebrados no méxico e de todos os livros que existem no méxico)

querer saber mais sobre a poeira da cidade do méxico e insinuar que não teria tempo para ler o livro amuleto me faz abrir o pdf e apertar ctrl+f para procurar toda poeira que existe nesse livro esquecido na minha pasta de downloads

 

 

 

 

 

(não sei nada sobre a poeira do méxico mas sei tudo sobre a poeira da cidade de itajaí e sobre como ela entra pela janela da minha casa e me faz varrer os cômodos com mais frequência do que nas outras casas que morei aqui) 

meus livros são os objetos que mais acumulam poeira e ficam perto da maior janela da sala   os tornando uma presa fácil da poeira (existe uma parte no livro amuleto que é dito isso que os livros são a presa mais fácil da poeira) isso pelo visto acontece no méxico e em itajaí

 

 

 

o ctrl+f acusa dezessete poeiras no livro de quarenta e oito páginas do roberto bolaño

leio todas as poeiras mas não leio o livro 

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numa dada situação descubro que rené thom diz que todos os fenômenos que se manifestam de maneira abrupta podem ser descritos matematicamente pela teoria da catástrofe (eu sei isso porque ton marar escreveu sobre) numa dada situação quando o vento quente e úmido encontra o vento frio e seco a poeira o veste pra dançarem brutalmente e pra que francis alys possa atirar seu corpo em meio ao caos

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numa outra situação, quando uma catástrofe não possui duas causas, mas três é chamado de rabo de andorinha que me faz pensar imediatamente no poema rabo de baleia de alice santanna onde tudo que ela queria era  abraçar um enorme rabo de baleia e seguir com ela

aqui em itajaí não se quebram muitos vasos 

 

marília garcia diz que a poeira deve vir de todas  as coisas quebradas na vida das pessoas e ana martins marques diz que tem quebrado copos e aqui em casa quebra-se muitos copos também então temos feito poeira quebrando coisas e deixando as coisas paradas por um dado tempo

 

a poeira que entra pela minha janela vem de tudo que circula aqui no centro e provavelmente em algum momento eu varri a poeira do correio demolido no final de outubro de dois mil e dezenove e atualmente eu varro a poeira dos que circulam na rua em meio a uma pandemia global

 

quando o comércio fechou em abril eu parei de varrer a sala da minha casa a poeira entrou maneiradamente e os cômodos se mantiveram limpos por mais tempo

 

o silêncio era o barulho que eu ouvia

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