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sonho.software

no final de semana do dia vinte nove de junho depois de passar horas olhando para o photoshop eu sonhei com software quando passo muito tempo no photoshop e depois durmo meu corpo deixa de ser corpo e eu viro comandos e controles e ícones nem o cursor do mouse existe nesse sonho que é meu talvez sua psicóloga diria que é mesmo um sonho meu ter esse nível de controle ou talvez você diga ser intrínseco esse comando de combinar informações de juntá-las de fundi-las talvez isso sempre tenha acontecido como quando começo a colecionar qualquer coisa e ainda sou pequena e continuo colecionando qualquer coisa desse tamanho que sou agora eu sonho com softwares há anos nesse sonho eu sou só comandos não existe linearidade não existe uma série de informações que eu possa descrever eu quase nunca nem ao menos faço coisas que se faz um software de edição tipo abrir um novo arquivo e criar uma nova camada porque sempre já se tem vários arquivos abertos no meu photoshop no sonho eu tenho conhecimento de todas as ferramentas ao meu alcance mas eu não alcanço nada eu sei tudo que posso comandar mas eu não comando nada em nenhuma sequência lógica eu apenas sou um software esperando algum comando se alguém comandar alguma coisa eu estou pronta para agir mas ninguém nunca comanda nada porque só eu estou ali sou só eu um software com ciência de todas suas ferramentas esperando algum comando que nunca vem eu sou um software mas quanto tempo mesmo faz que estou aqui operando e mesmo sendo um software a espera de um comando que nunca vem com tempo de sobra se pensa sobre o tempo quem nunca pensou sobre o tempo em qualquer tempo da vida e por que existiria um software com tempo de sobra que não pensaria sobre quanto tempo tem ou o que poderia ser feito com o tempo que sobra do tempo esperando um comando que nunca vem se o comando nunca vem eu preciso comandar alguma coisa eu sou um software sem hardware aparente consciente do que posso ou não fazer mas no sonho eu não faço nada eu acordo eu anoto o sonho eu conto esse sonho para outras pessoas enquanto edito um texto no photoshop eu leio o que escrevi do sonho para essas pessoas eu conto pra elas que eu sou um software consciente a espera de um comando que nunca vem enquanto edito esse próprio texto em um outro software de edição 

se sou um software com tempo de sobra esperando um comando como comandar o próprio software se você fosse um software com tempo que sobra do tempo a espera de um comando que nunca vem qual o primeiro comando que sairia de ti depois de pensar que está ali há tanto tempo que já nem se sabe mais há tanto tempo que já tanto faz tanto tempo que nem se considera mais o fato de que um software não sabe sobre tempo tanto tempo que passa a se pensar sobre tempo porque o comando nunca vem e se o comando não vem o que você faz com o tempo de sobra além de pensar sobre o tempo 

se sou um software com tempo de sobra esperando um comando como comandar o próprio software 

arquivo 

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novo documento 

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ferramenta de texto horizontal 

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 crtl + v

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crtl + v ou como eu sou um software tudo que comando-penso já se executa ou se sou um software quando lido com um texto será que eu penso o texto ou eu só o colo no arquivo novo esse software pensa ou esse software comanda ou se sou um software eu penso logo comando

nesse sonho que é meu o arquivo novo serve para sediar textos fragmentos de sonhos sonhados por um período longo de existência esse software sonhado lembra-pensa em sonhos repetidos e a repetição faz parte do código e do sonho e mais uma vez eu sonhei longo durou mais de uma semana e parecia estar em um lugar tipo tóquio passava os dias numa loja de bibelôs e as noites em um prédio abandonado mesmo só conhecendo prédios abandonados em itajaí e desconhecendo tóquio e prédios abandonados em tóquio e um dia ele me deu um colchão e não mais senti dor nas costas eu gastei todo dinheiro com bibelôs para presentear pessoas que estavam em um outro lugar que eu não pretendia voltar para mas eu comprava bibelôs se caso eu voltasse não seria de mãos vazias da loja de bibelôs até o prédio abandonado onde durmo tem um corredor de vidro embaixo do oceano submersa eu consigo ver animais aquáticos que não sei os nomes porque talvez eles nem tenham nomes e as algas longas vindas de tão baixo que não sei se realmente se originam de algum lugar ou se não tem início e só um pedaço do meio e o fim se mistura com o céu nublado do corredor de vidro submerso todos dão passos largos e entram em túneis eu sou o único corpo parado olhando a parede de vidro se romper 

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diagramar o texto até que pareça visualmente agradável aos olhos e se software não tem olho então cria-se uma nova pasta para organizar camadas e a camada com o primeiro texto vai para a nova pasta e oculta-se a pasta mas antes disso também preciso te dizer que a última parte de um sonho é a primeira parte que você se lembra quando você conta um sonho pra alguém assim que acorda você lembra seu sonho de trás pra frente e às vezes você acorda e não se lembra do sonho e quase chega a achar que não sonhou mesmo sabendo que sempre se sonha e que só se esquece e que não se lembra e esquecer não é lembrar mas lembrar é não esquecer e nesse dia você acorda do sonho e não se lembra do sonho 

eu lavo o rosto com água gelada e lembro de quando a parede de vidro rompeu essa madrugada eu corri da água em tóquio e não lembrava até lavar o rosto com água gelada em araraquara

texto justificado
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ferramenta de texto horizontal 

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começa com os passos em uma corda bamba que vai de lá a cá e liga quem eu fui a quem está aqui nessa hora  cambaleio embaixo de mim chão e um buraco cheio do que veio antes até virar agora (ele me mandava depoimentos no orkut daqueles para não aceitar me contando seus sonhos um dia ele sonhou que eu fui buscá-lo com um carro conversível na saída da escola e fomos tomar sorvete em barão geraldo) nesse ponto você precisa saber que na minha terra tem pegadas de dinossauros na calçada e as paredes do sul só são limpas porque as de sp são pichadas

 

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ferramenta de parágrafo

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texto justificado

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diagramar até ficar visualmente agradável aos olhos e se software não tem olho sei que esses textos corridos sobre sonhos ficam melhores com o formato de texto justificado que é esse texto que começa ali e termina aqui       eu sei que fica melhor assim porque sempre soube e sei porque sempre justifico tudo desde o que digo e o que faço até o penso escrevo ou comando então o texto é justificado
 

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ferramenta de texto horizontal 

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ela me acorda dizendo que sonhou com um parque aquático disse que tinha escorregadores enormes em formatos de animais aquáticos e terrestres (alguns eu sabia os nomes porque realmente existiam e outros eu não sabia os nomes embora realmente existissem também) no sonho fomos em quase todos os brinquedos que existiam no parque aquático menos no último  era algo com golfinhos ela disse mas eu tinha acabado de acordar nem sabia o que eu havia sonhado mas pensei no sonho dela por dias seguidos até que sonhei esse sonho do parque aquático
 

eu disse pra ela e ela não acreditou e nunca mais falamos sobre isso 

 

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esse foi o primeiro sonho que sonhei várias vezes o sonho era eu e ela num parque aquático e a gente sempre tinha que ir até o último brinquedo e eu sempre acordava antes do último e na próxima vez que eu sonhava existia outros brinquedos depois do último último e assim foi até não lembro quando 

 texto justificado

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ferramenta de texto horizontal

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sonhei que eu e você estávamos em uma casa de lago dessas casas que ficam na frente dum lago mas só vimos em filme eu nunca vi realmente uma casa de lago e mesmo assim sonhei com essa e estava eu e você e mais um desses sonhos longos que duram mais de uma semana onde acordamos e vamos dormir várias vezes no sonho até que uma noite o microondas começa a apitar de madrugada sozinho ele faz barulhos enquanto estamos no quarto e na primeira noite só achamos estranho na segunda noite você se mantém acordado e na terceira noite também na quarta você aparece com um livro e diz que os barulhos que o microondas faz é um código e que ele está tentando nos dizer alguma coisa e algumas noites passam e eu não sei mais contar e um dia eu acordo e você diz que descobriu o que o microondas estava a dizer você diz enquanto caminha para fora da casa e continua dizendo que era código morse e que ele te contou o segredo da vida você diz isso entrando no lago e sumindo na água e eu acordo de novo
 

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ferramenta de texto horizontal
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eu sonhei que ele usava uma camisa estampada com borboletas e mariposas reais elas se mantinham pousadas enquanto ele andava e eu não conseguia olhar por muito tempo para elas ele chega perto de mim e me diz que precisa me entregar a mariposa mais rara que ele tem ela não podia mais ficar com ele e então ele coloca a mariposa rara na minha pochete e eu não consigo nem olhar pra ela eu abro a pochete no banheiro e tranco a mariposa lá dentro e não consigo relar nela nem olhar para ela a mariposa mais rara que ele tinha e agora era minha e eu a mantive trancada no banheiro até eu acordar 
 

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eu sonhei com farelos na torradeira eu sonhei que juntei todos os farelos da torradeira e liguei a torradeira e depois de um tempo de lá saiu uma comida que eu não sei o nome e não sei se um dia eu já tenha visto algo como aquilo que eu não saberia nem descrever e pensando agora a torradeira não era nem uma torradeira dessas que ficam em cozinhas a torradeira tinha duas válvulas cilíndricas ligadas em dois cubos metálicos mas no sonho eu chamei de torradeira é natural que se esqueça ou que se lembre esquecer não é lembrar mas lembrar é não esquecer

 

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ela dormia com o ouvido encostado no ouvido da outra para sonharem o mesmo sonho e de alguma forma quando acordavam para relatar seus sonhos às vezes acreditavam mesmo que se visitaram em algum momento obscuro do sonho alguma parte perto de um corte brusco do sonho de uma que dava para encaixar com alguma imagem nebulosa do sonho da outra era uma forma também de lembrarem de seus sonhos ou não esquecê-los porque esquecer não é lembrar mas lembrar é não esquecer e teve um dia que uma sonhou que alguém a ensinava a sobreviver em uma mata ela diz que durou várias noites e que às vezes seu treinamento era noturno e que uma hora ela sentiu muito medo porque ela corria de alguma coisa na floresta e não sabe que coisa era essa porque não tinha nem tempo para olhar pra trás ela corria e corria e estava escuro mas ela conhecia todos os troncos de árvores no caminho e ela corria muito bem a noite ela era uma ótima sobrevivente e quando ela percebe que o que lhe perseguia já não podia alcançá-la ela percebe também que está muito longe de onde poderia estar ela percebe que correu muito e que já está nessa parte que a grama sente diferente que a grama em seus pés não a arrastam que a grama nessa parte prende ou puxa e ela decide entrar em uma caverna para esperar o dia vir ela entra na caverna e ouve barulhos enormes vindos de lá do fundo e mesmo sabendo que era arriscado parar na entrada de uma caverna que sai barulhos medonhos ela sabe que aquele barulho não é um barulho que pode vir a machucá-la tão forte ou tão rápido ela sabe que o barulho era mais parecido com um grito de medo ou de tristeza do que com um barulho de braveza ela senta na entrada da caverna e espera o dia chegar ela conta esse sonho para a outra que dormia com o ouvido encostado no dela e ela a outra conta que sonhou rápido que foi do tamanho de um respiro mas que conseguia lembrar todos os detalhes dessa cena que durou tão pouco e se existisse uma categoria para classificar pesadelos esse seria um nível dois de pesadelos e ela disse estar em um lugar escuro tão escuro que só se lembra de lugares que estavam pontualmente iluminados ela estava naquela fase da vida que referenciava coisas com cenas de filmes e disse que era como a caverna que os meninos da sociedade dos poetas mortos se encontravam para ler poesia mas ela disse que estava sozinha e que estava visitando esse lugar e que lhe era familiar e que gritava porque seu irmão havia caído em um lugar que ela não alcançava e que gritava pra tentar acordá-lo e que não sabia se ele respirava ou não mas sabia que precisava gritar e ela não sabe como ele caiu e nem como foram parar lá mas ela sabe que gritava pelo irmão caído em um lugar que ela não conseguia chegar ela me conta e me diz que sabe que era uma caverna porque a única imagem que tem é do corpo do irmão dela deitado nesse lugar que parecia o lugar que os meninos se encontravam pra ler poesia e que eles se encontravam para ler poesia em uma caverna então com certeza era uma caverna ela disse que gritou o grito que a outra ouviu no sonho recém contado ela tinha certeza que o ouvido era uma espécie de portal para o sonho da outra elas seguiram dormindo de ouvidos dados até um verão que não se encontraram mais e depois quando se encontraram já fazia tanto tempo que nem falavam mais sobre sonhos e dormiam em quartos separados e uma delas falava mais sobre festas e a outra falava mais sobre artigos
 

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involuntariamente sempre olhando para os lados antes de atravessar mesmo sem ser capaz de evitar a colisão a gente se tromba de frente me torno refém dos colapsos poéticos que vão além do lírico ou da linearidade do tempo como quando eu digo que sonhei contigo ao mesmo tempo que dizes que sonhastes comigo no relato desses sonhos simultâneos há sempre uma parte que a gente não se lembra e eu me pergunto se foi justo nessa parte que nossos subconscientes se encontraram e se lembrássemos a coincidência seria tanta que tiraria nosso sono e nunca mais sonharíamos novamente
 

texto justificado
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em um dia numa mesa daquele café que tem uma sacada eu te conto que sonhei esse sonho dele eu sonhei o sonho dele algumas vezes até virar o meu sonho mesmo que desde a primeira vez que sonhei o sonho dele já era o meu sonho e misturava barão geraldo em campinas com a boulevard dos oitis ou rua cinco do centro de onde eu morava eu lavo o rosto com água gelada onde eu estou agora a descida voltando pra casa ainda faz o rádio chiar onde eu estou agora o quinto taco do corredor ainda range se pisar e ele passa por um cômodo que eu estou estendida na vertical ele passa por esse cômodo prendendo a respiração como alguém que acaba de tomar um susto ou alguém que deu um gole em um vinho que se compra escondido ela come um brownie de maconha e passa o dia inteiro na cozinha tentando pertencer a um sistema de organização que nunca foi seu ou como lidar com ordens imediatas do tipo tire o fio de dentro da mandioca antes de colocar no processador na cabeça se ensaia algo do tipo me ajude a fazer mas ele ainda não participou de nenhuma parte do processo além de dizer como colocar a mandioca cozida no processador como alguém opina sobre o processo se não participa do processo ela enfia o dedo na mandioca quente até encontrar o fiapo e puxa ensaiando tudo o que ela nunca disse mas o que eu queria te dizer mas nunca disse é que eu espero que estejas sonhando com o sermão do padre que faz o mais herege ser chorar e que o mais herege ser chorando no seu sonho seja você mesmo e que estejas sonhando chorando o choro que descrevesse pra mim aquele que desanuvia com soluço e espasmos enquanto o torso gere ar e líquido que entra sai escorre vaza pelo rosto e o dorso encolhe porque o peito pinça de tanto chorar e eu torço pra que estejas sonhando com o sermão do padre que faz o mais herege ser chorar e que acorde sem lembrar do discurso nem do padre nem do choro e que leia esse texto e não se lembre do que sonhou e que lave o rosto de manhã e pense no choro esse choro que pode ou não ter sido chorado que pode ou não ter sido lembrado que pode ou não ter sido sonhado que pode ou não ter sido a reação ao sermão do padre que fez o mais herege ser chorar não sei se no seu sonho ou no de alguém qualquer mas o mais herege ser chorou

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quando sonha várias vezes o mesmo sonho existe uma parte do sonho que se é questionado alguma coisa do tipo eu já estive aqui antes sonhar várias vezes o mesmo sonho e perceber dentro do sonho que já sonhou esse sonho algumas outras vezes e saber o que vai acontecer e tentar alterar e não conseguir ou tentar alterar e conseguir ou só não tentar alterar porque gosta desse sonho assim eu sonho alguns sonhos repetidos às vezes eu tento alterar o roteiro e eu acordo e não consigo continuar o sonho às vezes eu tento alterar e consigo mas em certo ponto eu perco o controle do que estou sonhando e o sonho deixa de ser o sonho repetido a lógica da repetição do sonho é não alterar muito o sonho para que ele não deixe de ser esse sonho sonhado várias vezes ou para que seja de fato um sonho repetido mas é em sonhos repetidos que se torna mais fácil de perceber que aquilo é um sonho e que se pode controlar o sonho ou que se pode deixar acontecer da forma como aconteceu da última vez e só estar ciente de que é um sonho como se está ciente de que se é um software esperando um comando que nunca vem e se o comando nunca vem eu comando alguma coisa mas quando se está em um sonho repetido com ciência de se estar em um sonho repetido o comando vem do mesmo lugar de estar ciente de todas as ferramentas ao seu alcance e às vezes eu não alcanço nada como se fosse uma máquina com alguma peça solta ou um software com alguma atualização que se agenda para uma próxima hora e essa hora nunca chega ou quando chega como alcançar a peça ou o controle ou o comando como comandar o sonho repetido se ele é repetido ele precisa ser o mesmo sonho ou é o mesmo sonho porque eu quero que seja assim e comando não alcançar nenhuma ferramenta e comando não alterar o roteiro para que o sonho repetido continue se repetindo e eu continue conseguindo ou não conseguindo estar ciente de que é um sonho quando sonho um sonho repetido


texto justificado

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eu podia te contar que quando ela descobre que consegue controlar sonhos ainda é adolescente e gosta de alguém que conheceu no fake do orkut e depois de noites seguidas indo dormir pensando nesse alguém descobre que sonha com ele porque pensa nele antes dormir e então pensa nele antes de dormir para sonhar com ele quando te conto isso estou no meu quarto da adolescência com as paredes rosas mofadas e descascadas com a lateral da janela tageada por pessoas que eu nem sei mais se respondem por esses nomes escritos com caneta preta no metal pintado de creme moldurando a janela 

eu lavo meu rosto com água gelada 
 

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ela diz que na noite passada sonhou que te beijava num tapete medalhão buchara que cobria toda sala de estar só de estar ali acompanhando o estalar do teu peito em seu ouvido não se sabe o sentido mas lhe rasga o desejo de avançar no teu corpo deitado querendo de ser saciado e suado pelo esforço e o atrito que ela ouve é encontro de seus corpos num ritmo que ela gosta


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hoje eu acordei e caminhei até a hercílio mas a casa da cultura não estava mais lá eu procurei a escada e a escada não estava mais lá eu procurei a porta e a porta não estava mais lá hoje eu acordei e caminhei até a hercílio eu ia até a casa da cultura mas a casa da cultura não estava  mais lá então eu dei a volta para procurar a outra escada e a outra porta e não estavam mais lá eu ouvi alguém dizendo no banco para um outro alguém em um outro banco dizendo que alguém tinha vindo no final de semana e empurrado a casa da cultura e a casa da cultura andou dois quilômetros e outro alguém disse que não foi só dois quilômetros que foi pelo menos uns sete quilômetros eu então andei de dois a sete quilômetros em busca da casa da cultura e não encontrei a casa da cultura porque alguém veio até a hercílio no final de semana e empurrou a casa da cultura e não deixou rastro e hoje ninguém mais sabe aonde está a casa da cultura porque alguém a empurrou sem deixar rastros eu penso nesse lugar onde os prédios históricos que desaparecem em itajaí aparecem lá e nesse lugar a casa da cultura empurrada fica do lado do antigo prédio demolido dos correios  

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de domingo para segunda eu sonhei um sonho que eu já sonhei algumas outras vezes e esse você ainda não conhece então achei que pudesse terminar justamente dizendo que de domingo para segunda eu sonhei que estava sentada na entrada do gig em são carlos e meu celular toca e da primeira vez eu não atendo no sonho eu sei que ele tocou mas não atendo e não atendo não por saber que está tocando e decido ignorar porque no sonho eu realmente não ouço ou vejo o celular tocar e não atendo mas por ser meu sonho eu sei que tocou quando tocou eu só não poderia atender nesse momento porque é sempre da segunda vez que eu consigo atender esse é um sonho que toca uma música várias vezes e é uma música que talvez você nem conheça e montezuma é a trilha sonora repetida desse sonho repetido porque agora eu sou mais velha que meu pai e minha mãe quando eles me tiveram e alguém diz now im older then my mother and father when they had their daughter agora o que isso diz sobre mim eu não sei ou talvez sua psicóloga diria que isso diz tudo sobre mim now what does that say about me o celular toca de novo depois que a música começa pela segunda vez e dessa vez eu atendo mas a primeira vez quase que nem existiu porque dessa vez eu sei que é um sonho como eu poderia sonhar com um loop tão dois mil e treze mesmo que no sonho não evidencie que ano é esse que estamos como eu poderia sonhar com fleet foxes e fogazzas e você me ligando mesmo que montezuma nem seja uma música que eu ouvia numa época que você coexistia como eu poderia sonhar com um amor tão generoso e verdadeiro oh how could i dream of such a selfless and true love eu atendo e você me diz que achou um pingente entre a cama e a parede do seu quarto você diz que é o pingente de concha e que precisa algum dia me devolver could i wash my hands of just looking out for me eu sei que sonho é esse e eu sei que não posso pedir pra te encontrar agora nessa segunda ligação apesar de ser uma deixa você me falar sobre um pingente que achou entre a cama e a parede e que quer me devolver essa concha da máquina de moedas de alguma feira qualquer se eu dissesse algo do tipo estou em tal lugar venha me devolver eu sei o que aconteceria porque já aconteceu antes e eu sei que para o sonho continuar eu preciso esperar outra ligação sua eu tenho que te ouvir dizer sobre o pingente e sobre a feira é assim que celular continua tocando e é só sempre ouvindo você me contar alguma coisa você me liga e me conta alguma coisa qualquer coisa algumas coisas eu nem sei mais se algum dia foram reais algumas eu tenho certeza que não foram mas quando eu atendo da primeira vez pela segunda vez que você me liga e me diz que enfiou o braço entre a cama e a parede e tirou um pingente de concha de lá e diz que precisa me devolver eu digo que nesse dia a gente foi três vezes seguidas no kamikazi e que daquela vez nada caiu de nossos bolsos e que em outras vezes em outras feiras coisas caíram como sua chave caiu e quando descemos tinha um senhor esperando na saída do brinquedo com alguns objetos na mão desses que caem do kamikazi quando ele vira de cabeça pra baixo e todos ficam de cabeça pra baixo também ele diz que quando é chave presilha de cabelo e documento eles devolvem mas que às vezes cai celular e os celulares somem oh men what i used to be oh man oh my oh me esse diálogo já acontece há uns anos e eu já sei o que você vai me dizer antes de dizer e de forma alguma eu tento alterar esse roteiro que já foi tantas vezes ensaiado e que mesmo que já faça anos desde a última vez que sonhei esse sonho eu sei exatamente tudo que preciso dizer na hora que preciso dizer e eu digo e você me responde e eu já não sei mais se de fato dançamos forró na praça do bar do zinho em dois mil e doze eu não sei mais se nessa noite você me disse que as árvores da rua cinco parecem um mar estreito quando olhada de cima e eu te pergunto se um mar estreito não seria um rio e você diz que não porque tem ondas eu consigo ver a rua cinco de cima se eu penso na rua cinco de cima eu sei que consigo ver a rua cinco de cima mas não sei se vejo porque realmente vi ou de tanto que você me contou sobre a rua cinco vista de cima sobre os vários oitis gigantes plantados de ambos os lados da rua que formam um mar estreito quando vistos de cima 
 

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em uma das ligações você me pergunta se eu lembro de quando fomos na árvore que chora e alguém diz yours is the first face that i saw i think i was blind before i met you e outro alguém responde i dont know where i am dont know where i've been but i know where i want to go eu queria que você soubesse que esse sonho dura uma eternidade inteira e que ele acontece de forma muito lenta e imprescindível então acho justo você saber nesse ponto que naquele ponto estávamos na árvore que chora e que você me perguntou que música que me fazia lembrar de ti e em cinco segundos de pausa você diz que tem uma do bright eyes que você pensa em mim toda vez que ouve você não espera eu responder e fala sobre a música eu não te ouço mais e a ligação cai eu sei que vai tocar de novo não eu não altero o roteiro desse sonho repetido é assim que funciona um sonho repetido para ser repetido as coisas precisam continuar acontecendo da forma que acontecem e em nenhum momento eu penso que não sei o que dizer porque tudo que foi dito foi ensaiado tantas outras vezes nos outros sonhos que sonhei que o telefone sempre toca e você sempre me pergunta se eu lembro de algum momento específico e no sonho mesmo que seja um momento narrado por uma voz em um aparelho que coloco no ouvido existe outra atmosfera que acompanha a narrativa que evidencia que aquilo aconteceu mesmo que não tenha realmente acontecido e se não realmente aconteceu agora ali acontece porque ela a outra dizia em outro texto que o ouvido é um portal e aqui o ouvido também é um portal e quando acordo eu já não sei mais o que é real e o que é sonho e isso já nem importa mais ou nunca de fato importou tudo coexiste harmonicamente e o sonho repetido não possui alteração no código e o programa executado roda da forma que foi feito para rodar em um loop previsível o celular continua tocando e você continua dizendo sobre tudo que não aconteceu mesmo acontecendo ou tudo que aconteceu mesmo não acontecendo
 

texto justificado

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ferramenta de texto horizontal

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ela sonhou que estava de castigo e que saia escondida quando você chegava no portão da casa dela ela diz que vocês sentaram nos bancos na frente da igreja e fumaram um maço de cigarro ouvindo desintegration ela diz que no sonho você lia um trecho de algo que havia escrito na noite anterior era um texto sobre um gato siamês castrado e que não lembrava de mais nada além de que era um texto sobre um siamês castrado e que era um dos melhores textos que ela tinha ouvido alguém ler ela te conta sobre esse sonho e pede para você escrever um livro sobre ela ou te pede pra escrever um livro qualquer pode ser sobre qualquer coisa ela diz pode ser sobre escolher the head on the door porque desintegration a essa altura já tinha acabado pode escrever sobre qualquer coisa mesmo desde que em algum momento fale alguma coisa qualquer sobre ela ou você ou ele ou eu mesma mas esse livro precisa ser escrito porque no sonho dela em que você lia um texto que havia escrito esse texto que não existe mais evidenciava isso e ela precisava te dizer então todos esses anos passam e ela talvez não mais exista e ela talvez nunca existiu da forma como você ainda se lembra mas mesmo assim você decide abrir o software de edição que já tem arquivo aberto porque sempre já se tem arquivos abertos e oculta a pasta que já existe você passa a noite olhando para o software sabendo que quando passa muito tempo olhando para uma coisa você sonha com essa coisa ou essa coisa sonha contigo você sabe que essa noite você vai escrever editar diagramar um texto e que vai sonhar com software ou o software vai sonhar contigo e ela abre o photoshop e você conta o sonho e ele lê o texto e você oculta a pasta e ela cria uma nova pasta e ele cria uma nova camada e eu penso o sonho dela e ela escreve o sonho dele e você seleciona o texto todo para justificar e eu justifico e todos sonham com software ou o software sonha conosco
 

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